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Em A dama do mar, adaptação de Susan Sontag da obra de Ibsen, o homem diz à mulher: “Você se adaptou, você evoluiu”. A frase expõe a hegemonia da métrica masculina na relação heteroafetiva, ao estabelecer um padrão a ser alcançado, um “lugar” ao qual, para pertencer, a mulher deve dispor de seus desejos e de sua liberdade – correndo sérios riscos caso não o faça.

Partindo de questionamentos disparados pela frase, a artista juntou-se com outras mulheres, vindas de contextos abusivos, para elaborar sobre a violência de gênero presente no texto e em seus próprios relacionamentos afetivos. As violências dessubjetivantes, emaranhadas à experiência da leitura, tornaram visíveis reivindicações pessoais e políticas dessas mulheres: vida, dignidade, esperança e acordos tácitos de cuidados.

A ideia foi coletivizar experiências, tornar público o que é do âmbito privado e doméstico, fortalecer a presença e devolver às participantes a noção de que um corpo com consciência de si mesmo pode desenvolver suas possibilidades de gerar liberdade, autonomia e até mesmo alegria.

Após um longo processo de trabalho conjunto, as mulheres confeccionaram suas próprias máscaras, criaram fundos/cenários com elementos domésticos, como toalhas, lençóis e colchas, e desenvolveram uma gestualidade. Na etapa final da elaboração de experiências traumáticas, foram construídas imagens fotográficas em colaboração com cada retratada.

Eu sou muitas é a reunião dessas fotografias; Para preservá-las, garantiu-se o anonimato das participantes.
2016
ficha técnica