TÍTULO



Em A dama do mar, adaptação de Susan Sontag da obra de Ibsen, o homem diz à mulher: “Você se adaptou, você evoluiu”. A frase expõe a hegemonia da métrica masculina na relação heteroafetiva, ao estabelecer um padrão a ser alcançado, um “lugar” ao qual, para pertencer, a mulher deve dispor de seus desejos e de sua liberdade – correndo sérios riscos caso não o faça.

Partindo de questionamentos disparados pela frase, a artista juntou-se com outras mulheres, vindas de contextos abusivos, para elaborar sobre a violência de gênero presente no texto e em seus próprios relacionamentos afetivos. As violências dessubjetivantes, emaranhadas à experiência da leitura, tornaram visíveis reivindicações pessoais e políticas dessas mulheres: vida, dignidade, esperança e acordos tácitos de cuidados.

A ideia foi coletivizar experiências, tornar público o que é do âmbito privado e doméstico, fortalecer a presença e devolver às participantes a noção de que um corpo com consciência de si mesmo pode desenvolver suas possibilidades de gerar liberdade, autonomia e até mesmo alegria.

Após um longo processo de trabalho conjunto, as mulheres confeccionaram suas próprias máscaras, criaram fundos/cenários com elementos domésticos, como toalhas, lençóis e colchas, e desenvolveram uma gestualidade. Na etapa final da elaboração de experiências traumáticas, foram construídas imagens fotográficas em colaboração com cada retratada.

Eu sou muitas é a reunião dessas fotografias; Para preservá-las, garantiu-se o anonimato das participantes.
2016
ficha técnica















FALA!



Fala
fala como a noite fala
fala como a montanha fala
como elas falam e a gente toda entendendo
Cio da terra
Cicio da terra
e as gentes todas entendendo
falar como um maxilar mastiga
fala como a noite, fala!
falar como um osso estrutura
fala como a montanha, fala!
falar como a fruta amadurece
e depois esquece.
Fingir os cachorros que fingem que dormem, no fundo a orelha em prontidão, daí o tom
escurecer como a noite que acende estrelas. Falar como as montanhas, silêncio. Falar como o mar fala
Solfejar como um quadril chacoalha, fala!
Fala como elas dançam:
a montanha, a noite, a terra, o mar, o maxilar, o osso, os cachorros, as pedras.
desassujeitando.
Calar e falar como calam e falam as pedras
Vou te devorar!
No presente, contra o presente e em favor do tempo que virá, que é também presente e passado - uma promessa que não precisa acontecer.
Mover como movem ciclones e constelações
2021
Instalação arte pública
dimensões variáveis
Pedras de garimpo e pigmento mineral à base de argila
Antiga trilha do garimpo, Igatu/Bahia
















Fala!
foi realizado na residência artística Mirante Xique-Xique, em Igatu/ Chapada Diamantina, vila que se tornou conhecida por ser rota de garimpo até 1940.

O processo de garimpar consiste em quebrar as rochas em pedras menores verificando se há diamante em seus cascalhos. As pedras quebradas foram deixadas ao léu pelos antigos garimpeiros por toda a região de Igatu e assim permaneceram desde o fim do garimpo.

Em uma dessas trilhas, proponho uma instalação feita com estas pedras. Cada pedra foi pintada com uma palavra dentre 180 que compõe o poema Fala! A pintura foi feita com pigmento natural à base de argila, encontrado dentro de uma caverna pelo mestre Chiquinho de Igatu.

É uma instalação a céu aberto que se modifica com o tempo; pessoas levam algumas pedras, rearranjam outras.





EU SOU MUITAS



Eu sou muitas parte da leitura de A dama do mar, adaptação de Susan Sontag para a obra de Ibsen que narra a história de um homem e uma mulher em um relacionamento abusivo e violento.

Os questionamentos disparados pelo livro e a minha própria experiência em um relacionamento dessa natureza me levou a juntar-me com outras mulheres, todas vindas de contextos abusivos, para elaborar sobre a violência de gênero presente no texto e em seus nossos relacionamentos afetivos. As violências dessubjetivantes, emaranhadas à experiência da leitura, tornaram visíveis reivindicações pessoais e políticas: vida, dignidade, esperança e acordos tácitos de cuidados.



A ideia foi coletivizar experiências, tornar público o que é do âmbito privado e doméstico, fortalecer a presença e elaborar com as participantes a consciência de que um corpo em contato consigo mesmo pode desenvolver possibilidades de gerar liberdade, autonomia e alegria.

Após um longo processo de trabalho envolvendo práticas de saúde, escuta clínica, testemunho como exercício de compartilhamento coletivo, consciência corporal e meditação, as mulheres confeccionaram suas próprias máscaras, criaram fundos/cenários com elementos domésticos como toalhas, lençóis e colchas, e desenvolveram uma gestualidade. Na etapa final desta elaboração, foram construídas imagens fotográficas em colaboração com cada retratada.

Para preservá-las, garantiu-se o anonimato das participantes.
2014
Trabalho participativo
Casa do Povo/ São Paulo, 2014
Associação de Assistência Social S. Francisco de Assis/São Paulo, 2016
Oficina Cultural Alfredo Volpi/São Paulo, 2017
Centro Cultural São Paulo/São Paulo, 2023
Fotografias em giclèe print
100 x 70 cm cada
















VERMELHO-SANGUE

Vermelho-sangue é uma fotografia em que retrato os meus pais com rosto, cabelos e pescoço pintados de vermelho. Ela/e estão vestides com roupas ocidentais urbanas, também em tons vermelhos.

A minha mãe é uma mulher nascida e criada no sertão do RN que migrou para São Paulo, onde conheceu o meu pai, um roceiro do interior. Casaram-se, se filiaram a uma igreja evangélica radical, tiveram quatro filhas e uma vida com muita violência e conflitos – o pai reproduzindo um patriarcado do deuteronômio e um tipo de xenofobia contra a mãe sertaneja, que tentava manter uma certa sensibilidade artística e de vida.

Quando os fotografei, havia já quatro anos que o meu pai tinha sofrido um AVC e dependia integralmente de minha mãe. Neste período, ele tinha desenvolvido uma doçura. Eu estava pensando sobre valor e como atribuir valor a uma relação, às pessoas que importam a despeito de seus gestos e condutas. E valor é algo atribuído, está nas camadas que acrescentamos e tem a ver com afeto amoroso. Pintar de vermelho é sinalizar essa camada, torná-la visível e criar um invólucro. Destituídas desse empenho, dessa camada simbólica, talvez as relações significassem menos.  

Esta imagem representa uma vida, um encontro. Para além da violência e do conflito, também é possível reparar no encontro da pele deles nos braços dados, nas mãos entrelaçadas. Há algo nela que abre perguntas.




2015
Fotografia
60 x 60 cm
Impressão fotográfica Giclèe print em Hahnemühle








dormência - enquanto durmo, produzo substâncias





Comissionada por Ao Ar Livre, projeto com curadoria de Tiago de Abreu Pinto que ocorreu no contexto do isolamento por conta da pandemia Covid-19 em 2020, a performance consistiu em plantar inhames e cúrcumas em algumas praças e canteiros do Jd. Europa/São Paulo.


1. Este é o bairro que foi construído no final da década de 20 do séc. XX e destinado à classe dominante paulistana – o que se mantém até os dias atuais. Nele, moram ou possuem propriedades, políticos, ruralistas, empresários, corpos diplomáticos, celebridades. Com enorme concentração de riqueza e ruas despovoadas, atualiza com perfeição o conceito de regime colonial capitalístico racializante e classista* que rasga o tecido social brasileiro. Todas as ruas foram batizados com nomes de países ou capitais européias.

2. O inhame é bastante conhecido como um dos alimentos com maior concentração de ativos depurativos, com propriedades desintoxicantes, analgésicas, anti-inflamatórias, entre muitas outras. A cúrcuma é um alimento riquíssimo e praticamente sagrado para os adeptos da ayurveda (medicina ancestral indiana), tem variados usos medicinais atuando principalmente em tecidos inflamados.

3. Entre os agricultores, costuma-se dizer que os tubérculos “dormem” no inverno (de maio a agosto) e começam a brotar a partir de setembro, sendo outubro e novembro os meses de seu auge. O plantio destes tubérculos em agosto traz a informação de que estarão dormindo pelos próximos meses mas isso significa também que enquanto dormem, eles multiplicam em 20 mil vezes a sua potência de criação (nutrientes e substâncias) porque precisarão desta força para perfurar a terra e brotar.

4. No começo de março/abril, quando as pessoas puderam se dedicar ao confinamento, foi muito impactante saber que a terra mudou a vibração sísmica, os ruídos na crosta terrestre diminuíram. Um amigo comentou: “imagina se todas as pessoas do planeta pudessem pisar com os pés descalços na terra ao mesmo tempo, um acontecimento surgiria, uma vibração outra.”

5. Eu penso na cura como algo molecular, sutil – um espaço interseccional e micropoliticamente produtivo –, um tipo de ensinamento que se instaura e reorganiza aquilo que estava doente, a anomalia. Não é um apaziguamento nem um fechamento, é sustentar uma vibração até que uma irresolução possa se tornar um acontecimento de outra ordem, da ordem da vida
2020
Performance em espaço público
00:40h
Inhames, terra e Material de jardinagem
São Paulo/SP




A ação é acompanhada de um texto:

Experiência do agora. A gente sabe. E é porque somos habitadas por um corpo anterior ao corpo-vida-agora e ele é o que sabe. Ele come inhame e se lambuza, o corpo que come e desinflama, expurga, expulsa o pus que o corpo-vida-agora produz.

Nós, o corpo-inhame, reivindicamos as palavras e a nossa baba é pura matéria mole mastigável em nossa boca e língua. Palavras atravessam nossa carne e regurgitam massas fermentadas em expansão de organismos vivos. Pedaços inteiros de vida caem de nossas entranhas e fazem seus caminhos na terra. Cuspimos longe e cuspimos perto, traçamos rotas e caminhos. Cuspimos na terra as nossas inflamações e ela nos devolve plantas imensas com seus sumos roxos, vermelhos, pretos escorrendo por cima dos nossos corpos. O corpo-inhame e o corpo-pus. A-gente agora somos muitas, a-gente somos plantas e juntas, nos curamos;

Reivindicamos viver por nós mesmas, viver e continuar, que parem de nos matar! Cuspimos organismos vivos fermentados na cara de quem mata. Reivindicamos habitar os ocos e as covas e buracos, estar perto das velhas donas dos mundos, as que sabem usar o fogo e os ventos – reivindicamos habitar todos o mundos.









Carta à futura 



Carta à Futura é um texto escrito no gênero feminino. A língua portuguesa flexiona para o gênero masculino e isso significa que seres, objetos e entidades quando em coletivos são escritos e falados no masculino.

Carta à futura é dedicada a mover a língua e a escuta em direção a um exercício de tônus e tonalidade ligados ao gênero feminino. Ao retirar o que masculiniza a linguagem, pretende fazer surgir uma nova musculatura corporal, ensinando o corpo, através da língua, a produzir novos gestos e figuras.
2022
Livro e áudio
Livro tiragem 60, Editora n-1
Áudio 00:35h










SÓ SE ME DORMIREM




É uma peça de performance-dança baseada em encontros semanais com um grupo de dançarinos de salão idosos, a maioria deficientes visuais, junto a outres artistes que se juntaram ao trabalho.

Questionando a ênfase no sistema visual adotada pelo ocidente, adoto como estratégia a ampliação de práticas de toque e presença, no intuito de dar a perceber as relações/percepções de outra natureza que poderiam emergir nestes encontros.

Produzida em três movimentos: o tempo da pedra, o tempo da montanha e o tempo da dança, cada um deles pretendendo explorar nuances de tempo, presença e encontro/desencontro, ritmo ou arritmia.

O tempo da pedra é uma prática de eutonia de 60 minutos. Auxiliados por instruções vocais, os dançarinos entram em contato com movimentos, vibrações e informações moleculares do próprio corpo: o som da respiração, o tamanho do fígado, os ossos que se entregam ao chão. O público entra no espaço no 45° minuto e presencia o final desse movimento.

No tempo da montanha, há a busca de uma relação entre corpos e a possibilidade de estabelecer contato e movimento pelo toque. O tempo geológico é invocado, ampliando a extensão de gestos e deslocamentos.

No tempo da dança, ouvindo músicas diferentes em fones de ouvido, os dançarinos dançam juntos ou sozinhos, enquanto eu canto um único verso da canção Vapor Barato, de Jards Macalé e Waly Salomão: Oh, sim, eu estou tão cansada., acompanhada por uma musicista.
2018
Performace participativa
2:00H
G>E de Peito Aberto
Casa do Povo/SP


Performers: Sonia Maria Silvestre, Marlene Cordelia, Zelia Araujo dos Santos, Madalena Ligia Coutinho dos Reis, Regina Celia de Faria Ferreira, Teresa Riello, Benjamin Orlandi, Joel Souza Leal, Walter Roberto Cirillo, Giba Duarte, Aparecido Silvestre.
Música: Kilsen Girotto na Casa do Povo e Carla Boregas na SP-Arte
Práticas de eutonia: Ana Dupas
Assistente: Mariane Lima
Maquiagem: Felipe Ramirez
Locução: Camila Valones
Fotos e câmera: Adima Macena, André Penteado
Edição de vídeo: Pedro Gallego










O COCHILO



O cochilo é fruto de um workshop realizado na residência artística do Museumsquartier em Viena.

Propus aos participantes que dormíssemos por duas horas na porta de entrada principal do Leopold Museum.

A proposta foi repensarmos as maneiras de perceber e experimentar a realidade a partir da perspectiva ocidental – que aposta na supremacia da visão sobre os outros sentidos, conceito bastante reproduzido por instituições de arte brancocentradas.
2015
Performance participativa
2:00h
Entrada do Leopold Museum/Áustria


Participantes: Alice Ursini, Guilherme Mata, Luisa Lobo, Valentin Aigner, Anastasia Soutormina, Nancy Wanderberg, Tatiana Bereza.











POEMA  SILENCIADO




Um amontoado de pedras é recoberto por tecido; a costura é aparente e irregular. Cada pedra carrega uma palavra. Originalmente, juntas, elas formam um texto intitulado Poema silenciado. Folhas datilografadas empilhadas ao lado das pedras repetem este texto. Mas ele não pode ser lido: os parágrafos estão cobertos por traços de caneta que transformam a caligrafia em desenho. Exceto o último. Nele, se lê: "Um grito escarrado de garganta aberta, é preciso abrir a torneira, deixar o jorro sair, a água engolir a boca em ato de palavra formada. É preciso que a água invada a boca inteira para que a palavra produzida ali esteja toda já diluída. Não é palavra que precisa nascer, é palavra que precisa morrer".

O silenciamento imposto às palavras escondidas nas pedras repete e reitera outro, presente nos relacionamentos violentos e abusivos. Repetir esse apagamento, tornando público apenas o parágrafo final, sugere a relação entre o direito à palavra e à vida. E também o avesso: que a palavra, como linguagem hegemônica, pode carregar sentenças de morte, ao soterrar imagens, significados, lapsos, produções inconscientes.

O número de folhas empilhadas corresponde ao número de tentativas da artista de reproduzir o poema sem errar a datilografia.





2017
instalação
pedras, tecidos, linhas, papel



VERMELHO


Em Vermelho, a artista trabalha um tipo de invenção de uma cultura transitória correlacionando história familiar, arte, ficção e materialidades.

Após ter vivido uma experiência de violência e trauma, pintou partes de sua casa e todas as suas portas de vermelho. Um gesto na direção de emular proteção e aquecimento para o ambiente e que se estendeu para o seu próprio corpo.

À este primeiro gesto de proteção e aquecimento, somou-se ainda o desejo de identificar pessoas e objetos importantes em sua vida e também pintá-los de vermelho, como um marca-texto existencial, pintando inclusive os próprios pais.

Carrega uma certa insistência no tempo, entre permanência e mudança, e instaura um ritual de auto reconhecimento em que para se afirmar o mesmo é preciso ser sempre outro.
2015
giclee print
60 x 42 cm








DORMINDO SOBRE
A HISTÓRIA OFICIAL




Durante residência artística no Museums Quartier, em Viena/AU, dormi em vários monumentos históricos da cidade: na escadaria da Biblioteca Nacional, na Heldenplatz, bem abaixo do balcão onde Hitler discursou para 90% da população vienense em 1938; no monumento representando Mariahilfer também na Heldenplatz; nas escadarias da Prefeitura da cidade; na janela do Museu de História Natural e nas escadarias do Museu Nacional de Arte.
2015
Performance
00:30H cada
Heldenplatz, Viena/Áustria
Escadarias da biblioteca nacional, Viena/Áustria
Museu de história natural, Viena/Áustria
Monumento em homenagem à Mariahilfer/Áustria.









EU NÃO POSSO SENTIR POR VOCÊ, MAS EU POSSO SENTIR COM VOCÊ




Criada durante residência artística no Museumsquartier, em Viena, a Eu não posso sentir por você mas posso sentir com você resulta de um workshop no qual a artista elabora, com os demais participantes, as sensações e acontecimentos que viveu desde sua chegada à cidade.

O trabalho tem três movimentos distintos. No primeiro, a artista lê para os participantes um texto em que narra suas impressões sobre a cidade e seus habitantes. No segundo, os participantes produzem máscaras e roupas. No terceiro, dançam na área pública do museu, inclusive com quem se aproxima.

Fundamentado em uma dança que pode ou não ser compartilhada, o trabalho põe em tensão as relações entre pessoas e tempo histórico, sempre uma alegoria e uma arritmia. Apontando para o fato de Viena ter protagonizado eventos tidos como vetores políticos e artísticos do mundo moderno, expõe a solidão de seus habitantes diante dos espectros históricos deste passado.
2015
90'
performance
Museumsquartier, Viena
partcipantes: Alice Ursini, Anastasia Soutormina, Dana Sultana, Nadine, Maja, Nancy Wanderberg, Tatiana Bereza.


"Something in me fell asleep when I arrived in Wien. In the first week that was not a problem at all. Even I realized that, but soon it became a little disquieting. I start to think about that kind of numbness I felt and why people seem so polite but at the same time so “deprived of feelings and keeping it up for themselves”. So, yesterday I went to Zentralfriedhof, the biggest cemetery in Europe. And then, I started to feel a sort of disorder, like an estrangement. Dead people sleeping since 1874, those monumental buildings – graves, churches – it all began to bother me. Besides, there are more people dead and buried in Wien than alive.
I caught the bus (strassesbahn) and decided to go straight to the suburbs. Surely, I was in a real city – freak people, immigrants and mothers with their babies taking a Sunday sunbath – a way of life without subterfuges.
When I arrived at the MuseumsQuartier (a very central place) we went to an Indian restaurant for dinner. And then, what happened made me lose my sleep that night. The manager accused us of not having paid. But we did, of course. We had just left the restaurant when the manager started to follow us on the street to confront us. Something in me totally shook me and I answered: well, you can call the police and we’ll resolve this in the police office. Then, he gave up and went away. I lost my sleep and regained my feelings. The most interesting thing about that experience was that the violence shook me out of my apathy.
And I realized I was like an intense resonance chamber, feeling the same kind of numbness I had felt since the beginning. Layers and layers of numbness and official history buried in the buildings and streets, surely in the bodies and lives as well, but not in the faces or gestures. Everybody seemed to be masqueraded, sleeping on the official history – a certain apathy, a kind of anesthesia, appeasement or subsidence – in other words, people with imperturbable gestures as if events would not affect them."














OS AMANTES

Um casal dança lentamente. Não há música.

Durante a dança, fica visível que eles estão unidos pelos elementos que fecham roupas e sapatos (botões, cadarços e colchetes), e também por uma trança comum no alto de suas cabeças.

No desenvolvimento da dança, a percepção do que parecia um abraço carinhoso muda; fica explícito que os dois estão tentando se desvencilhar um do outro. Desatam e abrem punhos, cinturas, botões; acariciando os cabelos, vão desmanchando a trança comum. Quando estão completamente separados, cedem ao primeiro impulso, de correr para lados opostos, esquecendo-se que os cadarços ainda estão atados. O tombo é inevitável.





2015
20'
Vídeo
Fotos e video: Lucas Brandão
Performers: Julia Rocha e Michel Mustafá




DANÇA ESTRANHA

Um concurso de dança que dispensa concorrentes. A artista compete apenas com ela mesma, dançando durante todo o período em que a exposição fica aberta ao público.
performance
Lusco Fusco, Ateliê 397, 28 dias, 2015.
Open Studio, Museumsquartier, 4 horas, 2015.
SP-Arte, 5 dias, 2018.



O público pode interagir e dançar com a artista, seguindo as instruções disponíveis no espaço:
Você pode manipular a artista
/ ao escolher uma peruca, roupa ou acessório e pedir que ela vista
/ ao escolher a música de uma playlist
/ ao ser o par que dança com ela
A artista pode manipular você
/ ao se recusar a dançar com você
/ ao se recusar ou não a alterar a própria imagem
/ ao escolher a música da playlist
/ ao dançar com você até que você não aguente mais






GRITO MUDO COM A BOCA ESCANCARADA




Com o mesmo fio, e a partir de pontas opostas, um casal tricota cada um a sua própria roupa, em paralelo. Para construir a própria roupa – descobrem –, é preciso desconstruir a roupa do outro, em um processo lento e infinito.
2016
255'
performance
SESC Ipiranga, SP
performers: Carla Boregas e Gabi Vanzetta







COLCHÃO






2015
cimento
190 x 80



O ESTRANGEIRO




O estrangeiro é um objeto mas, também, um virtual, já que articula dois elementos – mar e céu – que, apesar de relacionados a sua função, não estão presentes na narrativa visual.

Uma jangada suspensa por balões povoa o espaço aéreo de uma piscina pública. Mesmo que, com o passar dos dias, aconteça uma lenta aproximação em direção à água, à medida que os balões murcham, o objeto não completa sua narrativa e nem cumpre sua função.

O tempo é o agente do acontecimento. Expectativa é uma relação com o futuro, o vislumbre de uma possibilidade; instaura uma crença e exige confirmação. Sucesso é uma expectativa que se concretiza. O estrangeiro propõe um encontro com estes tempos: aquilo que instaura novas possibilidades mas, não existindo como materialidade, pode ou não se atualizar em algo. Nessa relação contínua, a ideia de origem não tem lugar seguro.





2016
instalação
madeira, látex, tecido, cordas e gás hélio
5500 x 3400 x 2600 cm
SESC Ipiranga / A dama do mar
foto e vídeo: Aterro filme




SOUNDTRACK




Onze trilhas sonoras diferentes cujo conteúdo remete à trilhas de filmes e nomes, à emoções e ambientes: brutalidade, cansaço, vida, alegria, arrebatamento, fome, tempo, saudade, amor, escuridão, bagunça. A ideia é que se escolha uma delas para ser ouvida enquanto se assiste ao vídeo Os amantes e Luvas.

Junto aos discos, a legenda:
Você pode manipular as suas sensações:
. escolha um disco
. bote para tocar
. assista ao filme
. se quiser, repita a operação





















2015
11 discos
20 x 20
Lusco-fusco, Ateliê 397
edição de som: Ad Ferreira e Fabio Maia




É MUITO DIFÍCIL TER UM ROSTO






2015
instalação
objeto encontrado
80 x 50 cm




COMO CLUBE DO DESENHO





Em colaboração com o Como Clube (2009-2014) e partindo da prática de desenho vivo, o Como Clube do Desenho tem como intenção distorcer percepções e sensações do público da 31a. Bienal de São Paulo ao fornecer material de desenho enquanto performers criam cenas instantâneas.

Obras, ambiente, público e arquitetura são deslocados de seus territórios originais – mesmo que pela transitoriedade de algumas ações.
2014
Performance participativa
00:48h
31a bienal de São Paulo

Fotos: Matti Aikio
performers: Thelma Bonavita, Allysson Amaral, Ana Dupas, Caio César, Daniela Pinheiro, Eidglas Xavier, Gabi Vanzetta, Mavi Veloso, Valentina Desideri, Emilija Skarnulyte, Matti Aikio.




BICHO-CRATERA





2015
instalação
espelho, chifre, metal, pelo, fotografia
150 x 70 cm







MICROSCÓPIO



Em um jardim, uma mulher dorme guardada/observada pelo seu gato. Dentro da casa, no banheiro, dez gatos negros observam dez pássaros brancos que voejam perto do teto, protegidos por um tule.Ao acordar, a mulher coloca uma dentadura e alianças de ouro; pula a janela e solta o gato branco no banheiro com gatos e pássaros.Um acordo estabelece aproximações – entre mulher e animais, entre os próprios animais – e atualiza todos os acordos da ordem natural do mundo. Não há mediação da artista ou da performer, mas uma aliança com o intempestivo.Microscópio trata de aproximações e distanciamentos entre formas e forças. Investiga na ação de aproximar e distanciar os elementos presentes no campo performativo. Aquilo que é da ordem do visível e da representação e, portanto, tem relação com formas e pode existir materialmente; e aquilo que tem a ver com forças e é uma manifestação – presente mas impossível de materializar. Este jogo de relações é tratado como irresolução necessária, e não como apaziguamento.





2008
40'
instalação / performance
Galeria Florence Antonio
foto: Maria Antonia Demasi







BIBLIOTECA



Reúne diversos livros e materiais, principalmente tecidos, colecionados ao longo de 20 anos.



2014/2015
Objetos







POLISSEMIA




2003
Giclee print
120 x 80 cm
foto: Henrique Gendre
em parceria com Suzy Okamoto




COISAS





EU TENHO O CÉU INTEIRO PARA VOAR



A característica de todo pombo-correio é que eles têm a capacidade de voar por muitos quilômetros com o objetivo de retornar ao seu pombal de origem. Eu contratei "os serviços" de 250 pombos-correio que foram soltos na Galeria Vermelho e voaram para o pombal de origem, no bairro vizinho ao que nasci e cresci, na Zona Leste de São Paulo, subúrbio da cidade.  

É um percurso de cerca de 15km que depois eu percorri a pé. Nesta época, eu morava perto da Galeria Vermelho, Zona Oeste da cidade.  Este trabalho tem a ver com origem, memória e deslocamento periferia-centro.




2003
2min
performance
Galeria Vermelho
vídeo: Vitor Angelo

MICROSCÓPIO II



Um binóculo da década de 70 sofreu uma intervenção em suas lentes e o observador, ao ajusta-lo aos olhos, enxerga uma palavra e uma seta apontando para cima. Para qualquer objeto ou lugar que se aponte o binóculo há o lembrete proposto pela palavra e pela seta.

2008
objeto


NOME NÚMERO E SÉRIE




1999
instalação
couro, tecido, metal
Feira Internacional de Tecido


INVISÍVEL


Uma cama e um ataúde vertical abrigaram por uma madrugada duas mulheres ao mesmo tempo em que um fauno percorria o perímetro externo da galeria.

O fauno tem como função velar pelo sono das mulheres e imantar o “espaço da arte” de certa presença selvagem e insondável, misto de homem e bicho.

Não houve público nem houve registro da ação.


2004
480'
performance
Galeria Vermelho

G>E GRUPO MAIOR QUE EU




É um núcleo de estudos e pesquisa em arte e criação coordenado por mim e criado em 2013.

O grupo emerge do desejo de construir um ambiente de experimentação propício a novas maneiras de produção e encontro. Tem como base o interesse comum em desmantelar narrativas hegemônicas e produzir subjetividades ético-político-estéticas.

As discussões são efeitos em movimento de leituras sobretudo provenientes do sul global e feministas. Cada participante traz a própria produção para discussão no grupo nas mais variadas linguagens.

As produções se manifestam através de uma política da imaginação. A palavra política diz respeito a como organizar recursos, práticas, espaços e a vida partilhada; imaginação fala do desejo de formar ideias e fabricar mundos, procurando os meios necessários para manter as potências de criação vivas e buscando posições ativas para estabelecer estas forças no mundo. Territórios e subjetividades são construídos numa dinâmica completamente aberta e viva que une o trabalho de cada participante e o cotidiano do grupo.

Os programas fixos incluem encontros semanais e coletivos; acompanhamentos individuais comigo; e o G>E de Peito Aberto, que recebe outros artistas para debater processos e criação.

Ao longo dos últimos anos, passaram pelo G>E mais de 400 artistes.
Desde 2013
Concepção e coordenação
Grupo de pesquisa em arte e criação
@grupomaiorqueeu










G>E DE PEITO ABERTO



Programa do G>E_grupo maior que eu que recebe artistes e pesquisadores para compartilhar publicamente os seus processos.

Pode ser um bate-papo individual com a/o artista/pesquisador/a, roda de conversa e a Edição Especial, que reúne diversos artistas em uma pluralidade de ações e conteúdos.

A ideia é criar outras formas de produção de conhecimento, revelar processos e epistemologias, desvelar a realidade (des) conhecida.

Passaram pelo G>E de Peito Aberto inúmeras/ os artistas/es, dentre elas/es Ana Dupas, Allysson Amaral, Bruna Petreca, Bianca Soares, Bruno Mendonça, Bruna Kury, Caio César de Andrade, Camila Valones, Carla Boregas, Carlos Monroy, Carou Diquinson, Catarina Duncan, Deusydara, Erica Malunguinho, Erika Palomino, Felipe Russo, Felipe Caprestano, Gabriela Gonçalves, Gabriela Serfaty, Gabriela Vanzetta, Glamour Garcia, Ícaro Lira, Josefa Pereira, Jjoao Paes, Juliana França, Karen Ka, KK Toy, Maurício Ianês, Morgana Apuama, Paula Garcia, Pablo Paniagua, Pedro Gallego, Pio Figueroa, Renata Bastos, Ricardo Càstro, Rafa Kennedy, Raquel Uendi, Rodrigo Vaz, Ronalda Bi, Ronaldo Entler, Sheila Ribeiro, Suzy Okamoto, Teresa Siewerdt, Thelma Bonavita, TintaPreta, Thiane Nascimento, Veniccio Barbosa, Vicente Perrota, Vivian Caccuri, Wagner Schwartz, Xu






Desde 2018
Concepção e curadoria
Casa do Povo/São Paulo, 2018
Centro Cultural Esponja/São Paulo, 2019
Canteiro Arte Contemporânea/São Paulo, 2023










G>E DE PEITO ABERTO EDIÇÃO ESPECIAL 2019




Programa do G>E_grupo maior que eu, recebe artistes e pesquisadoris com desejo de compartilhar publicamente seus processos.

O G>E de Peito Aberto acontece em três formatos diferentes: bate-papo individual com o artista/pesquisador, roda de conversa e a Edição Especial, que reúne diversos artistas em uma pluralidade de ações e conteúdos. É sempre planejado para ser completamente autônomo e independente, realizado em parceria com os artistas participantes. O que significa quebrar com certas hegemonias institucionais que favorecem o projeto sobre o processo.

A ideia é criar outras formas de produção de conhecimento, revelar processos e epistemologias, dirigir e desvelar a realidade (des)conhecida. Não é um manifesto pela precariedade, mas pela potência que habita um trabalho, independentemente dos processos e produções que poderiam esculpi-lo.

A edição especial G>E de Peito Aberto 2019 teve a participação de Alexandre dos Anjos, Ana Dupas, Bru de Figueiredo, Carolina Castanho com Jjoao Paes e Iran Giusti, Frank Dezeuxis, Gal Gruman, Laura Artigas, Marta Pires, Otavio Barata, Pedro Gallego, Sofia Lemos, Valentina Soares.










CLÍNICA ESTÉTICO-POLÍTICA: ACOMPANHAMENTO DE PROCESSOS DE PESQUISA E CRIAÇÃO




Acompanhamento individual de processos de criação e instauração de procedimentos em arte. Este trabalho amplia os modos de produção do G>E_grupo maior que eu_ @grupomaiorqueeu transferindo algumas das experiências criadas e desenvolvidas para o contexto pessoal.

O G>E existe desde 2013 e, bastante resumidamente, podemos dizer que temos nos dedicado a trabalhar processos de restauração da potência vital e de criação nos processos artísticos. Buscamos instaurar territórios relacionais em que os inconscientes possam encontrar brechas e escapes para as suas materialidades, algumas artísticas, outras existenciais. Direcionado para todes que estão com a vida artística aprisionada, seja por quais motivos e de que formas for.

O participante se compromete a ficar 1 semestre e os encontros são individuais e com duração de 60 minutos. Atualmente, online.
acompanhamento individual
desde 2018








ATELIÊ VIVO




O Ateliê Vivo, uma biblioteca pública de modelagem surgiu como uma proposta do G>E_grupo maior que eu_ para o projeto Meta Coletivo da Casa do Povo. Hoje sua prática se amplia para além da biblioteca, uma escola e um laboratório de práticas têxteis de moda.

O Ateliê Vivo atuou junto ao G>E_grupo maior que eu_ de 2015 a 2018. Atualmente, segue como um projeto forte e autônomo, trabalhando em ateliê próprio, coordenado por: Andrea Guerra, Carolina Cherubini, Fábio Lima Malheiros, Flávia Lobo de Felício, Gabriela Cherubini.

O objetivo é que as pessoas possam intervir na lógica da indústria da moda retomando o conhecimento e a autonomia sobre a construção de uma roupa. Na biblioteca, o público pode escolher um modelo, cortar e costurar a sua própria roupa.

Os pontos que devem ser ressaltados sobre o Ateliê Vivo:

/agir de forma viva e ativa no ciclo da moda;
/intervir na lógica do processo produtivo da moda;
/criar e recriar a partir da materialidade
/retomada de processo manual.
/autonomia na construção de uma roupa;


de 2015 até 2018biblioteca pública de modelagemCoordenado por: Andrea Guerra, Carolina Cherubini, Fábio Lima Malheiros, Flavia Lobo de Felício, Gabriela Cherubinifotos: Mariane Lima







G>E DE PEITO ABERTO 2018




Programa do G>E_grupo maior que eu, recebe artistes e pesquisadoris com desejo de compartilhar publicamente seus processos.

O G>E de Peito Aberto acontece em três formatos diferentes: bate-papo individual com o artista/pesquisador, roda de conversa e a Edição Especial, que reúne diversos artistas em uma pluralidade de ações e conteúdos. É sempre planejado para ser completamente autônomo e independente, realizado em parceria com os artistas participantes. O que significa quebrar com certas hegemonias institucionais que favorecem o projeto sobre o processo.

A ideia é criar outras formas de produção de conhecimento, revelar processos e epistemologias, dirigir e desvelar a realidade (des)conhecida. Não é um manifesto pela precariedade, mas pela potência que habita um trabalho, independentemente dos processos e produções que poderiam esculpi-lo.

A edição especial G>E de Peito Aberto 2018 teve a colaboração do artista Bruno Mendonça e a participação de Ad Ferrera, Ana Dupas, Allysson Amaral, Bianca Soares, Bruno Mendonça, Jjoao Paes, Caio César de Andrade, Camila Valones, Carla Boregas, Carlos Monroy, Carou Diquinson, Bruna Kury, Karen Ka, Catarina Duncan, Deusydara, Erica Malunguinho, Erika Palomino, Felipe Caprestano, Glamour Garcia, Josefa Pereira, Juliana França, Thelma Bonavita, KK Toy, Morgana Apuama, Pedro Gallego, Renata Bastos, Ricardo Càstro, Rafa Kennedy, Rodrigo Vaz, Ronalda Bi, Suzy Okamoto, Teresa Siewerdt, Pablo Paniagua, TintaPreta, Thiane Nascimento, Veniccio Barbosa, Vicente Perrota, Xu.











WORKSHOP DE COISAS




Realizado em parceria com a artista Thelma Bonavita, partia da divulgação de um workshop com as seguintes instruções:

Workshop de Coisas
/ traga objetos com os quais queira elaborar um desfile de coisas
/ disponha estes objetos para que os demais participantes possam fazer uso
/ desfile estes objetos
/ os objetos e o espaço conduzem a operação.

As artistas juntam-se aos participantes e uma organização motora vai tomando forma. Os movimentos aparecem como desenhos conduzidos pelos objetos e promovem um jogo de ressignificações – do espaço, do tempo, do objeto e do portador –, no qual o geral (vida) e o específico (história pessoal) misturam-se em uma dinâmica sensorial que compartilha outras formas de percepção.
2014
240'
ação interativa em parceria com Thelma Bonavita e Casa do Povo
foto: Danielle Yukari