A terra é a pele da Terra
A terra é a pele da terra é uma instalação que contém cinco trabalhos: Chão-amarelo, Chão-terra e A pele é a pele da terra. Todos são de 2024.
Chão-amarelo e Chão-terra, grafados com hífen, são painéis em tela pintados com grossa camada de argila e tapioca.
Os painéis acompanham lateralmente o painel central A terra é a pele da Terra que é um painel em tela pintada com argila, tapioca, sangue, carvão, grafite e óxido de ferro. Distante 60cm deste painel, há um outro, têxtil, confeccionado a partir de meias de nylon femininas costuradas à mão. Entre os painéis, um artefato construído em madeira, cera de abelha, argila e cabelo.
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A pesquisa para este projeto instalativo começa em 2016 quando viajei pela primeira vez para a Chapada Diamantina/Bahia e recolho amostras de diversos tons de terra (argila), encantada pela textura do material e pelas cores. Somente em 2024, oito anos depois e após ter estado várias vezes naquele território, me interesso por transformar estas argilas em pigmento.
Ao macerar a terra para coar, decantar e produzir o pigmento, me questiono sobre este ato, já que a pintura não é parte de minhas práticas artísticas (ou não era, até então). Ao me questionar, intuo que não é exatamente sobre pigmentos e pinturas que estou pesquisando e percebo nitidamente que a terra (argila) é a pele do planeta Terra. Lembro, então, de duas peças que costurei para o trabalho O duplo, 2003.
São peças confeccionadas por meio de meias de nylon costuradas à mão umas nas outras com pontos bem pequenos –de várias cores que podemos nomear de tons de peles, desde marrons-escuro à beges-claro. Herdei estas meias de minha avó. Explico: quando criança, pelo furo em uma de suas almofadas, entendi que o recheio das almofadas da casa dela era feito de meias finas. E soube que a minha bisavó era quem recolhia as diversas meias das mulheres da família com as quais recheava edredons e almofadas. Eu passei a brincar com estes recheios a ponto da minha avó ter guardado algumas almofadas para mim, que viraram peças de roupas em 2003.
E a relação que se apresentou entre as meias-finas e a argila ultrapassa, em muito, a relação de cores. Eu passei a perceber a argila como uma pele, ou muitas peles em camadas. Em seguida, percebi que as diversas meias que compõem as peças contam a história das mulheres de minha família, suas peles, suas camadas. Estas meias são do final dos anos 50, começo dos 60, quando a minha família chega em São Paulo, vinda do interior do RN – claro que tem uma questão de clima, de adaptação ao frio vindas de um calor sertanejo, e tem igualmente uma questão histórica, já que neste período as mulheres só saíam às ruas vestidas de meias-fina.
Em A terra é a pele da Terra transformo uma das peças em um painel têxtil e a outra em uma réplica exata do meu corpo, com as mesmas medidas e os meus cabelos em forma de uma peruca. Com as argilas, produzo várias cores de pigmento com os quais pinto três grandes painéis usando tapioca como aglutinante. E, sobre estes painéis, pinto inscrições com o meu sangue. Penso em fundir as minhas mineralidades corporais com as substâncias mineralizadas da terra e, ao replicar o meu corpo a partir das meias das mulheres de minha família, mimetizar e imprimir o meu corpo/gesto ao delas.
Chão-amarelo e Chão-terra, grafados com hífen, são painéis em tela pintados com grossa camada de argila e tapioca.
Os painéis acompanham lateralmente o painel central A terra é a pele da Terra que é um painel em tela pintada com argila, tapioca, sangue, carvão, grafite e óxido de ferro. Distante 60cm deste painel, há um outro, têxtil, confeccionado a partir de meias de nylon femininas costuradas à mão. Entre os painéis, um artefato construído em madeira, cera de abelha, argila e cabelo.

A pesquisa para este projeto instalativo começa em 2016 quando viajei pela primeira vez para a Chapada Diamantina/Bahia e recolho amostras de diversos tons de terra (argila), encantada pela textura do material e pelas cores. Somente em 2024, oito anos depois e após ter estado várias vezes naquele território, me interesso por transformar estas argilas em pigmento.
Ao macerar a terra para coar, decantar e produzir o pigmento, me questiono sobre este ato, já que a pintura não é parte de minhas práticas artísticas (ou não era, até então). Ao me questionar, intuo que não é exatamente sobre pigmentos e pinturas que estou pesquisando e percebo nitidamente que a terra (argila) é a pele do planeta Terra. Lembro, então, de duas peças que costurei para o trabalho O duplo, 2003.
São peças confeccionadas por meio de meias de nylon costuradas à mão umas nas outras com pontos bem pequenos –de várias cores que podemos nomear de tons de peles, desde marrons-escuro à beges-claro. Herdei estas meias de minha avó. Explico: quando criança, pelo furo em uma de suas almofadas, entendi que o recheio das almofadas da casa dela era feito de meias finas. E soube que a minha bisavó era quem recolhia as diversas meias das mulheres da família com as quais recheava edredons e almofadas. Eu passei a brincar com estes recheios a ponto da minha avó ter guardado algumas almofadas para mim, que viraram peças de roupas em 2003.
E a relação que se apresentou entre as meias-finas e a argila ultrapassa, em muito, a relação de cores. Eu passei a perceber a argila como uma pele, ou muitas peles em camadas. Em seguida, percebi que as diversas meias que compõem as peças contam a história das mulheres de minha família, suas peles, suas camadas. Estas meias são do final dos anos 50, começo dos 60, quando a minha família chega em São Paulo, vinda do interior do RN – claro que tem uma questão de clima, de adaptação ao frio vindas de um calor sertanejo, e tem igualmente uma questão histórica, já que neste período as mulheres só saíam às ruas vestidas de meias-fina.
Em A terra é a pele da Terra transformo uma das peças em um painel têxtil e a outra em uma réplica exata do meu corpo, com as mesmas medidas e os meus cabelos em forma de uma peruca. Com as argilas, produzo várias cores de pigmento com os quais pinto três grandes painéis usando tapioca como aglutinante. E, sobre estes painéis, pinto inscrições com o meu sangue. Penso em fundir as minhas mineralidades corporais com as substâncias mineralizadas da terra e, ao replicar o meu corpo a partir das meias das mulheres de minha família, mimetizar e imprimir o meu corpo/gesto ao delas.
2024
Karlla Girotto
A terra é a pele da Terra, 2024
Materiais: pintura de argila, tapioca, sangue, carvão, grafite, sanguínea e óxido de ferro sobre canva, meias de nylon, madeira, cera de abelha, cabelo, inhame, batata-doce, cará e coco seco.
Karlla Girotto
A terra é a pele da Terra, 2024
Materiais: pintura de argila, tapioca, sangue, carvão, grafite, sanguínea e óxido de ferro sobre canva, meias de nylon, madeira, cera de abelha, cabelo, inhame, batata-doce, cará e coco seco.
